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António Lopes de Sá, Prof. Doutor

Faleceu o Professor António Lopes de Sá


António Lopes de Sá, o professor António Lopes de Sá, faleceu aos 83 anos, na sua amada cidade de Belo Horizonte.

Nascido em 1927, atravessou pois o século XX correspondendo-se e sendo amigo de grandes nomes da Contabilidade pelo mundo fora.

Grande vulto da Contabilidade, tanto no Brasil como no estrangeiro, deixou publicadas mais de 150 obras, além de milhares de artigos em jornais e revistas das mais variadas latitudes. Possuidor de mais de trinta teoremas e axiomas científicos contabilísticos, era doutor em Ciências Contábeis pela Universidade do Brasil do Rio de Janeiro.   

Seguindo o patrimonialismo de Masi, Lopes de Amorim e D’Auria, foi o criador da corrente neopatrimonialista e grande entusiasta dos Congressos Internacionais de Contabilidade - Prolatino.

Grande amigo de Martim Noel Monteiro e da APOTEC - ajudou a rabiscar os Estatutos da nossa Associação e mais tarde foi um dos autores do Regulamento do Centro de Estudos de História da Contabilidade -, colaborou em diversas Jornadas e era Presidente Honorário do Centro de Estudos desde a fundação e Sócio Honorário da APOTEC.

Casado com a professora e pedagoga  Édila Márcia e com três filhos, recebeu-nos com toda a sua amizade e hospitalidade no ano já longínquo de 1998, no decorrer de um Prolatino, na sua casa no Retiro das Pedras a cerca de 1500 metros de altitude, no cume imponente de uma das encostas da Serra da Moeda, nas suas palavras, “um dos lugares mais bonitos do mundo”.

Em nome dos Corpos Sociais da APOTEC, apresentando as nossas sentidas condolências à esposa, filhos e demais família, terminamos pois com as palavras pessoanas, com que nos idos de 90, procurámos agradecer ao cientista, ao professor, ao homem e ao amigo: António Lopes de Sá: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.




Presidente Honorário - António Lopes de Sá, Prof. Doutor

ANTÓNIO LOPES DE SÁ: DEUS QUER, O HOMEM SONHA, A OBRA NASCE

Por Manuel Benavente

O Professor António Lopes de Sá é uma daquelas personalidades singulares que aparece de geração em geração e das quais sentimos orgulho em ser discípulos e amigos.
Com mais de 150 obras escritas, milhares de artigos difundidos pelos mais diversos meios de comunicação, nas mais variadas latitudes, constitui um exemplo de como Deus é imenso, e a vida, a grande aposta que temos o direito e o dever de jogar.
Simples e solícito, mas profundamente analítico, apaixonado e empreendedor, sempre disposto a ajudar e com uma fraterna disponibilidade do tamanho do mundo, eis o Professor António Lopes de Sá grande amigo da APOTEC, grande cientista da Contabilidade e grande intelectual da cultura luso-brasileira.

Nascido em Belo Horizonte no Estado de Minas Gerais, em 9 de Abril de 1927, seu pai era português da Beira Alta e sua mãe de ascendência hispano-italiana. Sublinhe-se que seus avós maternos tinham sido fundadores da cidade de Minas em 1897.
Tendo perdido o pai com apenas três anos de idade, começa a trabalhar muito cedo na oficina do avô, latoeiro de profissão.
Aos catorze anos já trabalhava como auxiliar de contabilidade. Tendo uma grande vocação para as ciências - Química, Física e Matemática -, segue porém Contabilidade porque era o único curso nocturno que poderia frequentar, após abandonar a "sua amada" Química, devido a dificuldades financeiras.
Sua mãe - professora de artes -, terá que emancipá-lo aos dezassete anos de idade, para que possa leccionar as primeiras classes da escola que então frequentava.
Com dezoito anos apenas, deixa o emprego e gere o seu próprio negócio, instalando-se com um escritório de contabilidade. E é aqui, nesta área do conhecimento que vai fazer a sua aposta de vida, num misto de amor, profissionalismo e cultura.

Aos 23 anos entretanto, começa a corresponder-se com o grande Federigo Melis, pilar da Contabilidade de Itália, no dizer de Lopes de Sá, grande inteligência e espírito forte.
Em 1951 já assina artigos na Revista Paulista de Contabilidade, de S. Paulo, Brasil.
Nos domínios da História da Contabilidade, começa por escrever em 1963 com o seu amigo Melis - um dos maiores historiadores de Contabilidade de Itália - o trabalho intitulado "Os banqueiros florentinos e a descoberta do Brasil".
Sublinhe-se que aqui desenvolve a tese, de que o Brasil já estaria descoberto pelos portugueses no século XV, com a intervenção dos banqueiros de Florença.
Na actividade de pesquisa sobre a riqueza das células sociais derivou seis teorias as quais concluem que "... só a eficácia das células sociais pode, em somatória, resultar no bem estar da sociedade humana."

Possuidor de mais de trinta teoremas e axiomas científicos contabilísticos, doutor em ciências contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Económicas da Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro em 1964 -, nível superior máximo -, investigador eminente, docente respeitado, publicista e conferencista brilhante, pertence a um sem número de Academias, Colégios e Institutos espalhados pelo mundo, que atestam toda uma vida dedicada à ciência da Contabilidade.
Detentor desde 1985, da medalha de ouro João Lyra - maior título contabilístico que se atribui no Brasil -, comendador, representante do Presidente da República do Brasil ao Conselho Económico e Social da Organização das Nações Unidas em 1980 em Genebra, António Lopes de Sá tem actualmente em processo de investigação, doze teoremas e axiomas científicos contabilísticos e em elaboração três livros, para além dos artigos que vai escrevendo e das conferências que pelo mundo fora vai dando.

Homem de hábitos simples no quotidiano, levanta-se às quatro horas da manhã, deitando-se cerca das vinte e três horas, residindo o segredo da sua produtividade segundo diz, no método que tem para usar o tempo.
Vive "... num dos lugares mais bonitos do mundo", no Retiro das Pedras a cerca de 1.500 metros de altitude, desfrutando de uma espectacular vista sobre um vale, numa das encostas da serra da Moeda.
Casado com a professora e pedagoga, Édila Márcia, tem três filhos do primeiro casamento - Ana Maria, Marco António e Tereza Cristina. Tem ainda nove netos, trabalhando já um deles, advogado, no escritório do avô.
Apreciador de culinária, não perde a oportunidade de confeccionar acepipes, segundo diz talvez como que um acto falhado do seu inconsciente, "... das combinações químicas que eu fazia e que frustradas ficaram".

Não mais se esquece do requinte de um jantar em casa do seu amigo Federigo Melis, na Via San Gallo. A mulher de Melis, Gabriella, na boa tradição italiana, era exímia nas artes de Pantagruel; confeccionou vários acepipes, qual deles o mais requintado tendo Melis acompanhado cada um com um vinho da sua predilecção.
Recorda que nessa noite estava também presente Egídio Giannessi, chefe da escola doutrinária aziendalista de Pisa - outro seu grande amigo -, e lembra que foi Melis quem o estimulou à investigação histórica da Contabilidade.
Nas doutrinas contabilísticas aceita o "patrimonialismo como base, pela sua maior condição lógica", abraçando o patrimonialismo de Masi, Lopes de Amorim e D’Auria e é hoje, segundo as suas próprias palavras, um neopatrimonialista.

Com grande gosto pela escrita, publica normalmente dois livros por ano e escreve cerca de quinze artigos por mês para diversos jornais e revistas. Por diletantismo, escreve também desde contos a poesia, todos inéditos até agora.
Ensina-nos enfim este grande Mestre, que erudição e cultura devem ser duas faces da mesma moeda, fazendo-nos reflectir sobre a imagem tremendamente redutora que às vezes, a Contabilidade ainda hoje tem. Porque a Ciência da Contabilidade não se pode reduzir ao quotidiano microcosmos técnico do débito e do crédito. Porque enquanto as técnicas estão ao serviço de outras técnicas e ciências, as ciências estão directamente ao serviço do Homem.
Por isso António Lopes de Sá chega à aliciante tese sobre o descobrimento do Brasil, a partir dos banqueiros Medici, por isso explica a "Última Ceia" de Da Vinci pelo Tratado de Aritmética e Geometria, de Pacioli, por isso António Lopes de Sá, cidadão luso-brasileiro, cientista, escritor, pai, marido e avô, é homem renascentista do saber global.

Para terminar sublinhe-se, que o Centro de Estudos de História da Contabilidade deve-lhe muito, para além do importante rabisco dos estatutos. Deve-lhe o seu entusiasmo, a sua crença, a sua fé em que tudo fazia sentido e havia de dar certo.
E ter um Presidente Honorário assim, só faz sentido, se formos dignos desse entusiasmo, dessa crença, dessa fé, capazes enfim de fazer sentido também.